Numa época em que se fazem esforços para banir a discriminação entre os sexos à procura de igualdade e justiçasociais, as diferenças entre os sexos estão sendo redescobertas nas ciências sociais.
Essas são palavras da socióloga estadunidense Carol Gilligan, que, no início dos anos de 1980, publicou o impactante livro “Uma voz diferente”. Nessa obra, a autora divulgou os resultados das pesquisas que realizou visando identificar eventuais diferenças nos modos como homens e mulheres tendem a pensar questões éticas. A socióloga concluiu que, ao menos na sociedade norte-americana da época, as mulheres pensavam a ética de maneira distinta dos homens. Se, por um lado, eles tendem a lidar com questões éticas utilizando uma terminologia quase jurídica, princípios de imparcialidade e um mínimo de emotividade, por outro lado, elas tendem a afirmar uma ética de cuidado, visando atender uma rede interconectada de necessidades, interesses para com o próximo e prevenção de danos. Tal constatação levou Gilligan a propor uma teoria predominante - mas não exclusa - no pensamento feminino: a chamada “ética do cuidado”. Na prática, a ética do cuidado prima pelo comprometimento, franqueza, atenção e sensibilidade na relação entre as pessoas.
A despeito das diversas críticas que a ética do cuidado tem recebido desde sua formulação inicial, há de se reconhecer que ela desempenha um importante papel de contracultura. Em especial, trata-se de uma crítica à definição tradicional de ser humano nas sociedades capitalistas ocidentais: um sujeito autônomo e igualmente moral e legal. Para alguns autores, essa concepção refletiria um estereótipo fortemente masculino, com sua imparcialidade aplicando-se a todos os indivíduos, independentemente das diferenças de gênero, cor, idade, etnia e classe social, dentre outras. A busca por essa imparcialidade radical pode resultar numa indiferença cega para com as necessidades especiais de certas pessoas. E, embora a imparcialidade seja uma virtude moral em alguns casos, ela é um vício em outros.
Vista, por alguns autores, como um antídoto à adversidade e à insensibilidade do mundo, a ética do cuidado tornou-se popular entre os profissionais da saúde, especialmente os da enfermagem. Isso se segue da própria concepção, amplamente aceita, segundo a qual “cura” define medicina, ao passo que “cuidado” define enfermagem. Lembre-se, ainda, de que a enfermagem sempre foi uma profissão majoritariamente feminina, condição que, de acordo com alguns autores, se deve ao fato de que poucas atividades possibilitam tão bem a expressão e desenvolvimento de virtudes predominantemente femininas quanto a enfermagem
2 comentários:
As tradicionais profissões tipicamente femininas são de cuidadoras: enfermeiras, médicas, professoras, psicólogas, nutricionistas, demais áreas da saúde. Mesmo a função de mãe e dona de casa é basicamente de cuidar: dos filhos, do marido, dos pais e dos avós.
Outra função das mulheres seria ser "artista". As advogadas seriam a exceção a regra feminina típica, escolha das "arianas" ou "leoninas". A engenharia seria a antítese da ética da cuidadora. Mas mesmo essas mulheres que desviam na profissão de cuidar dos outros provavelmente terão de cuidar de marido, filhos e pais.
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