Quando filhos eram o efeito colateral

Durante milênios filhos eram o efeito colateral do instinto sexual. O instinto materno que surgia após o nascimento do filho era exatamente isso: instinto. A atração sexual e a seleção eram também instintivas e assim a humanidade viveu durante séculos e séculos, com uma perspectiva de vida de 30 anos onde a rotina era nascer, crescer, acasalar, reproduzir e morrer, tudo de forma automática e rapidamente. Essa rotina biológica selecionada por milênios agora tem de se confrontar com novas exigências, onde dinheiro, acumulação de bens, desenvolvimento da inteligência, menor número de filhos e maior expectativa de vida vieram para ficar. Hoje filhos podem não ser o efeito colateral que foram no passado, afinal existem métodos anti concepcionais muito eficazes. Filhos podem e devem ser para quem quer, gosta, tem suporte adequado e está disposto a ter trabalho, preocupação e gastar muito dinheiro. Podemos dizer que ter filhos de alto nível e desempenho é um luxo. Da mesma forma casar com um filho desses também será um privilégio, já que eles serão uma elite. Tudo muito diferente do que acontecia no passado, quando as pessoas casavam com os poucos exemplares disponíveis na redondeza de onde moravam. Hoje em dia uma pessoa pode ter mais afinidades com um profissional ou determinada pessoa de classe social semelhante em qualquer lugar do mundo do que com seu vizinho despreparado ou compatriota que fala a mesma língua. É assim que o mercado ficou globalizado e casamentos entre pessoas de nacionalidades diferentes passaram a ser uma hipótese e não mais uma utopia. Passagens aéreas mais baratas e o uso da internet viabilizaram o processo. O dinheiro circula com muito mais facilidade. Imigrantes que no passado iam embora para nunca mais voltar hoje em dia circulam facilmente. Mais pessoas conhecem outros idiomas. Existem mais acordos entre as nações. As mulheres bonitas preparadas podem emigrar para qualquer lugar do mundo onde existam homens com dinheiro suficiente para mantê-las satisfeitas e felizes. Homens profissionais de sucesso podem emigrar para qualquer pais do mundo que lhes ofereçam melhores possibilidades de exercerem suas profissões e gerarem riqueza. É claro que tudo isso é muito mais interessante para os jovens que estão escolhendo onde se fixar e os costumes diferentes podem atrapalhar. Um background cultural adequado pode facilitar muito e isso pode ser conseguido com intercambio ou outro tipo de experiência. Teremos filhos de pais de nacionalidades diferentes vivendo em um terceiro pais. Houve uma época em que somente diplomatas tinham esse tipo de vida e graças as benesses que seus governos lhes forneciam podiam viver em relativa tranquilidade. Depois vieram alguns expatriados de multinacionais. E agora temos profissionais liberais ganhando o mundo. Congressos internacionais, viagens de tourismo, intercâmbios de todo tipo. O mundo ficou pequeno. Os preços podem ser consultados de forma instantânea. A logística e os cálculos permitem a invasão de mercados. Decisões de investimento mudam ao redor do mundo em segundos. Houve uma época em que para enviar uma carta ao exterior demora semanas. Em que para ter acesso a revistas e jornais do exterior era necessário ir até a banca de jornais do aeroporto. Hoje existe ranking de todo tipo: nacional, regional e internacional. Tudo é medido e comparado. A palavra premium passou a ser cada vez mais usada. As soluções utilizadas pelos países para resolver seus problemas passaram a serem compartilhadas e imitá-las ficou muito mais barato.